terça-feira, 30 de outubro de 2007

A biografia de Censório

Censório, filho de Esperança e Artur, nasceu no Rio. Nasceu junto à ditadura militar e talvez por isso mais tarde houvesse decidido morrer com ela.

Seus pais eram finos apreciadores da música em suas melhores formas e, desde que Censório nadava na barriga de sua mãe, já era embebido com música, muita música. Esperança e Artur acreditavam que a única coisa que poderia mudar o Brasil era a música.

Aos oito anos Censório pediu seu primeiro violão de presente. Ganhou na hora obviamente. Passava todo o seu tempo praticando e tendo aulas com seus professores, seus grandes mestres, os discos. Tirava tudo de ouvido, não sabia nada de partitura, era um gênio.

Aos dez já era o sucesso da família, em todas as festas o garotinho tocava, alegrando os tios, primos, avós, cachorro e tudo que podia ouvi-lo. Nesse tempo escreveu sua primeira música:

“Meus dez anos viveram com muito amor

Aprendi música, e hoje toco com fervor

Ainda não tenho uma namorada

Mas logo conquistarei

Ainda sou menino paralitico

Mas um dia levantarei

Serei grande isso eu sei

Pra dar tiro em político”

Num Natal de família o garotinho tocou sua música, foram trinta segundos de atenção. Depois só se perguntava: da onde ele tira tanta coisa com apenas dez anos? Nesse dia os pais de Censório já imaginavam o homem que ele seria.

Com quinze anos o rapaz foi ao seu primeiro show. Assistiu “Os Debutantes” bem de perto. Apaixonou-se pela guitarra elétrica. Apaixonou-se pelo público. A partir daquele dia ele decidira que a música fazia parte dele, era um órgão, algo vital. Queria vomitar tudo o que sentia para o povo.

Começou a sair de casa, ia a bares onde os músicos se encontravam. Ia se aproximando devagarzinho. Usava da sua pouca idade pra conquistá-los. Foi se afundado nessa onda de amizades e logo já fazia parte daquilo tudo. Era o caçula da turma, da turma mais intelectual e doida da cidade maravilhosa.

Aos dezesseis já assinava músicas com os grandes da MPB, já tocava em alguns bares, mas nunca havia subido em um grande palco, ainda não tinha uma legião de fãs, e era isso que ele queria. Sua chance estava chegando, o grande festival de música da maior rede de TV já estava com as inscrições abertas. Era a hora, músicas não faltavam, faltava idade.

Depois de muito choramingar convenceu seus pais e seus amigos músicos a ir junto para São Paulo. Deram um jeito de inscrevê-lo e pronto ele já estava.

Atrás das cortinas só se ouvia os berros, as vaias e tudo mais. Era um calor infernal, e uma tensão no ar. Havia militares em todos os cantos, prontos para intervir se alguém contrariasse a censura. Censório dentro do camarim ouviu seu nome. Estava calmo apesar de tudo. Abriu a porta e se posicionou na frente da cortina olhando reto. As cortinas se abriram e lá estava o rapaz, fardado, com uma pistola em uma mão e uma guitarra na outra. As vaias começaram. No meio da confusão se ouviu um tiro e viram um corpo no chão. Censório suicidou-se no palco. O silêncio foi unânime. Censório havia se tornado herói. Matou a ditadura e foi junto com ela. Torturá-la.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007


Ré à Vida

Feriado, um feriado, O feriado. Junto estávamos todos nós, cada vez mais amigos, cada vez mais unidos. Caixas e caixas de cerveja, caixinhas de cigarro, motor quebrado, pinga, grama, pelados no rio, cabeça raspada, filmagens, fotos, produções, papos e papos, música ruim, música boa, cortes, tapas, queimaduras, riscos, nóias, brisas, bolachas, paixões. Um feriado repleto de tanta coisa! Essa é a vida que eu quis, um mundo inteiro pra nós em alguns dias, lembranças pra lembrar e contar para os filhos, para os netos!

AMIGOS, AMO VOCÊS!